Minha opinião sobre zoológicos
- Camila Bueno
- 20 de jan. de 2019
- 5 min de leitura
Recebi muitas críticas e elogios sobre os zoológicos, agora vou expor um pouco a minha opinião sobre o assunto e mostrar um lado da história que muita gente ainda não sabe. Como não conheço muito as regras e o funcionamento dos zoológicos em outros países, vou focar em expor como é aqui no Brasil. Lembrando que zoológico inclui parques ecológicos e aquários.
Desde pequena sempre gostei muito de zoológicos, achava incrível ver animais tão diferentes pertinho de mim. Conforme fui crescendo, lia notícias sobre maus tratos, abandono de animais em zoológicos que fechavam, militantes protestando contra sua existência... enfim, só coisas negativas desse tipo. Isso me fez ser contra a ponto de não visitar mais e compartilhar petições pedindo a proibição dos mesmos.
Mas ainda ficava com uma pulga atrás da orelha: será mesmo que é tão ruim assim? Não tem nada que eu possa usar para defender esses lugares que me deixavam tão feliz? Então resolvi ir atrás.
Fui à uma mesa redonda sobre tráfico de animais silvestres em um congresso da UNICAMP. Me inscrevi para o programa de trabalho voluntário do Parque Ecológico de São Carlos. Visitei vários zoológicos do estado de São Paulo, pesquisei, li, e a partir disso compreendi que eles não só tem muitos pontos positivos, como também são uma peça fundamental para a conservação de espécies.
Você já parou para pensar para onde vão os animais vítimas de atropelamento? Onde eles são atendidos e cuidados? E os animais provenientes do tráfico ilegal? E aqueles que foram criados em casa como pets até que o dono se cansa ou é apreendido pela polícia ambiental? Ou ainda, aqueles animais que perderam seus habitats e seus pais devido ao desmatamento ou construção de hidrelétricas?
Pois é, a resposta é simples... vão para zoológicos!!
Eu acho uma hipocrisia (e eu posso falar isso porque já fui assim também) ficar com dó dos animais presos mas não ter dó na hora de gastar muita energia elétrica no dia a dia. Não pensar duas vezes ao usar descartáveis e plástico de forma abundante. Não contribuir com petições e protestos que visão diminuir o atropelamento de animais em rodovias. Mas principalmente, não buscar saber como aquele animal foi parar ali.
Hoje em dia, os zoológicos são proibidos de simplesmente retirar os animais de seus habitats naturais para colocá-los em gaiolas. Todos os animais que você vê presos ali tiveram alguma história, sendo quase sempre uma consequência de nossas ações.

Vou contar algumas histórias que eu sei de animais do Parque Ecológico de São Carlos. Esse macaquinho que aparece comigo na foto recebeu o nome de Gabriel. Gabriel é um órfão cuja mãe foi morta durante a crise de febre amarela (lembrando que macacos NÃO TRANSMITEM febre amarela). Os macacos são como nós e dependem do cuidado materno para se desenvolver e aprender a sobreviver sozinho, se o Parque não tivesse o resgatado, ele com certeza estaria morto. Já ressaltando que só tive esse contato no treinamento para o trabalho voluntário que realizei lá.
Outra história é a do Paraíba, a onça parda. Ele foi vítima de atropelamento e ficou sob os cuidados do Parque. Mesmo passando por muitas cirurgias, ele desenvolveu uma deficiência no traseiro e ficou com muitas sequelas no corpo. Ele não consegue mais caçar como antes, por isso depende de um local como o Parque para tratá-lo e alimentá-lo. O Parque foi muito criticado pela situação do animal, pois achavam que os funcionários o maltratavam, então ele foi transferido para outro zoo para acabar com os boatos.
Uma história muito comum também, fui informada sobre isso no zoológico de São Paulo, são aqueles animais que nasceram em zoológicos e são descendentes de um progenitor que veio de circos ou da captura direta da natureza (pois muitos anos atrás isso era permitido).
Além dessa importância de socorrer os animais, os zoológicos também são uma importante ferramenta de educação ambiental e de pesquisas. Ter um contato de perto com os animais desenvolve nas pessoas um sentimento de empatia, fazendo-as enxergar que aquele animal não está tão distante assim, que ele é real e precisamos preservá-lo. Muitos zoos realizam ainda atividades de educação ambiental com as crianças para conscientizá-las ainda mais. Além disso, a proximidade que os zoos proporcionam permite que cientistas aprendam muito sobre o comportamento dos animais, o que também auxilia em programas de conservação.

Outro aspecto muito positivo se dá na própria conservação e manutenção de espécies. Já tivemos muitos casos de animais que foram extintos da natureza mas ainda haviam representantes em zoos. Os urso panda por exemplo, hoje já saíram da categoria de risco de extinção e possuem uma população grande e estável, tudo graças a programas de conservação em zoológicos. A própria ararinha azul que falei sobre no último post (https://camilabuenorodrigu.wixsite.com/ecolibrio/inicio/blu-n%C3%A3o-est%C3%A1-morto) será reintroduzida na natureza pela ação de zoos.
Mas você deve estar se perguntando: tudo bem, mas porque deixá-los presos mesmo depois que se recuperam? Porque não soltá-los em uma área que não foi degradada? Essa questão é mais delicada, pois envolve muitos fatores.
Acredito que o primeiro deles é que um estudo muito complexo deve ser feito sobre o local de soltura para analisar os riscos de introduzir uma nova espécie ali. Outro, acontece muito com macacos por exemplo, que apesar de ter uma população de macacos em um local que seja da mesma espécie do macaco que está preso, não podemos simplesmente soltá-lo com os outros. Eles sabem distinguir "intrusos" e o macaco vindo do zoo provavelmente seria morto ou abandonado para viver sozinho.
Apesar das complicações, muitos zoos fazem sim a reintrodução, sempre que possível. O zoo de São Paulo por exemplo, mandou amostras de pelo de mico-leão-dourado para o laboratório do qual faço parte (o LabBMC http://labbmcufscar.wixsite.com/labbmc-ufscar?fbclid=IwAR2HuFlCDYVTTDa-f-l06l7F7Y_nRM3EqyE6-O4YveDniAOYpZwgp_ISBtY), para que o DNA fosse analisado e o animal pudesse ser reintroduzido na população de DNA mais compatível com o dele. Ele chegou ao zoo por conta de tráfico ilegal.
Para concluir, sou a favor sim de zoológicos, contanto que sigam esses pontos que expus aqui e respeitem os hábitos de cada animal. Sou MUITO contra a utilização de animais para puro entretenimento humano, não concordo nenhum pouco com dopar os animais para tirar fotos (acho o cúmulo do absurdo!!), com um contato excessivo com os humanos, com zoológicos que não se preocupam em manter a dieta apropriada para o animal... enfim, todos esses pontos que ferem a ética e os desrespeitam.
Por isso, pesquise antes, procure saber as histórias, vá até o local de onde estão vindo os boatos e pergunte, não repasse informações sem antes ter certeza delas!! Acidentes podem sempre acontecer, mas acredito que, no geral, seria muito pior se zoológicos não existissem.

Vou aproveitar para pedir também que você respeite e apreenda quem não está respeitando os animais neste ambiente. Não jogue comida nem objetos nos recintos de forma alguma, não grite, não bata nos vidros, nem faça muito barulho. Não cutuque nem rele no animal caso a gaiola permita, você pode passar doença para eles e eles para você. Já é culpa nossa aquele animal estar ali, uma consequência de ações dos seres humanos, por isso, colabore para que eles possam ter um pouco de paz!!
Se quiserem saber mais histórias ou só debater sobre o assunto estou à disposição!
Muito bom!! :)